Bia Carvalho

29 de jun de 20191 min

(Sábado da Poesia) Estâncias para Música - Lord Byron

Alegria não há que o mundo dê, como a que tira.
 

 
Quando, do pensamento de antes, a paixão expira
 

 
Na triste decadência do sentir;
 

 
Não é na jovem face apenas o rubor
 

 
Que esmaia rápido, porém do pensamento a flor
 

 
Vai-se antes de que a própria juventude possa ir.
 

 
Alguns cuja alma boia no naufrágio da ventura
 

 
Aos escolhos da culpa ou mar do excesso são levados;
 

 
O ímã da rota foi-se, ou só e em vão aponta a obscura
 

 
Praia que nunca atingirão os panos lacerados.
 

 
Então, frio mortal da alma, como a noite desce;
 

 
Não sente ela a dor de outrem, nem a sua ousa sonhar;
 

 
toda a fonte do pranto, o frio a veio enregelar;
 

 
Brilham ainda os olhos: é o gelo que aparece.
 

 
Dos lábios flua o espírito, e a alegria o peito invada,
 

 
Na meia-noite já sem esperança de repouso:
 

 
É como na hera em torno de uma torre já arruinada,
 

 
Verde por fora, e fresca, mas por baixo cinza anoso.
 

 
Pudesse eu me sentir ou ser como em horas passadas,
 

 
Ou como outrora sobre cenas idas chorar tanto;
 

 
Parecem doces no deserto as fontes, se salgadas:
 

 
No ermo da vida assim seria para mim o pranto

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