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  • Qualis - Comunicação

Prólogo de Me Descobrindo Sua - L.M. Gomes


Setembro 2009

A praia estava perfeita naquele dia. Sol no seu devido lugar, temperatura agradável e mar tranquilo. Coloquei a esteira na areia e tirei a saída de praia. Sentei pegando meus fones de ouvido e colocando minha playlist relax, olhei em volta notando um moreno que me encarava com uma garrafa pequena de água na mão. Sorriu ao ser flagrado e ergueu a bebida em um gesto educado. Lindo, forte e cabelos curtos. Daquela distância notei que seus olhos eram castanhos claros e seus dentes pareciam saídos de comerciais de TV. Sorri de volta, um pouco tímida, e logo deitei, me concentrando na música. Estava ciente do seu olhar sobre mim. Fechei os olhos deixando que o sol aquecesse minha pele.

Estava precisando de uma corzinha. Meus cabelos ruivos, olhos azuis e pele branca sempre faziam com que me sentisse deslocada, não era raro ser tratada como turista. Morava tão perto da praia e raramente tinha tempo de usufruir dela. Samantha dizia que eu era louca, tudo que ela queria era morar pertinho e não ter que usar aquelas máquinas de bronzeamento artificial. Samy, como eu a chamava carinhosamente, era minha melhor amiga desde os 15 anos. Sempre foi tudo mais do que eu: mais alta, mais bonita, mais falante, mais descolada, mais assediada, morena de olhos verdes e mais ousada. Quando fez 18 anos, Samy decidiu que queria ganhar o mundo... Ou, no caso, a capital. Aos 20 anos, ela cursava seu terceiro ano de fisioterapia, e eu morria de saudades dela.

Senti uma sombra. Abri os olhos e aquela escultura estava diante de mim. Era bem alto e muito mais forte de perto. Usando uma sunga azul, meus olhos focaram em sua tatuagem que seguia pela lateral direita de seu abdômen. Um dragão. Uau! Mais quente impossível. Sentei-me rápido e ele se acomodou ao meu lado na esteira. Não podia negar, sua atitude me prendia. — Henry — estendeu a mão, e eu sorri, retribuindo o gesto. — Jane — pude ver melhor seus olhos. Lindos, um castanho tão claro que ao sol ficavam mel. — Sozinha? — ele soltou e eu tenho certeza que fiquei vermelha. Não estava acostumada com aquele tipo de abordagem. A verdade era que eu não dava muita oportunidade para aquilo, quase nunca me viam fora do circuito “casa — trabalho — faculdade”. — Sim, estou — ele se levantou e me ajudou a fazer o mesmo. Caramba! Eu ficava na altura do peito dele. Nossa, e que peito! — Me acompanha em um mergulho? — pegou minha mão, me levando até o mar. Quando a água batia na minha cintura, ele me erguia a cada onda que chegava. Ríamos, e ele começou um papo animado sobre como curtia estar ali. Disse-me que estava a passeio, morava em outro estado e que iria embora em cinco dias. É, minha sorte não era tanta. — Janta comigo hoje? — perguntou depois de me abaixar de uma onda e continuar a me segurar junto a si. Senti que estava ficando excitado, e isso me fez sentir um choque no centro do meu corpo. — Sim — eu não diria outra coisa. Ia aproveitar aquele moreno o quanto pudesse. Sorriu e me ergueu novamente em outra onda e antes que meus pés voltassem a tocar o chão senti sua boca em meu pescoço. Mordiscou, e eu dei acesso. Quando soltei um suspiro ele me olhou. E sem nenhuma palavra dita, me beijou. Segurei sua nuca e aprofundei mais o beijo. Estávamos ambos sem fôlego quando separamos nossos lábios. Uma onda nos pegou e nos afastou, começamos a rir. Joguei água nele, e ele em mim. Corri como pude e ele me puxou e me jogou na água. Emergi tossindo, e ele me pegou no colo. — Me desculpa, nossa me desculpa. Você está bem? — olhei bem naqueles olhos lindos. — Muito bem, obrigada — seu sorriso radiante me contaminou.


Agosto 2012

— Não se esqueça de trazer o vinho. Amo você. — Também te amo, branquinha, até daqui a pouco — Henry disse e desligou. Faríamos dois anos de casados. Foi lindo, do jeito que eu sonhei. Na praia, com nossos amigos mais íntimos. Viajamos pela Europa na lua de mel e desde então parecia que não tínhamos saído dela. Nossa vida era um sonho. Mudei-me da praia e segui com ele. Larguei tudo para trás e recomecei. Estava quase concluindo meu segundo ano de odontologia. Henry era dentista, por isso me encantei com seu sorriso fantástico de TV. Ia trabalhar com ele no seu consultório e estávamos pensando em ampliar quando estivéssemos juntos. Olhei para minha aliança grossa, mesclada de ouro branco e amarelo. Henry era perfeito. As lembranças me invadindo... — Onde estamos indo? — estava curiosa e aquela venda tapando minha visão me deixava mais ansiosa ainda. — Calma, estamos chegando, princesa — escutei o carro parar. Fui tentando aguçar meus ouvidos, não podia ouvir o barulho de nada além dos passos dele e a porta quando abriu. — Me dá sua mão — ajudou-me a descer do seu Jipe e segurou minha cintura, beijando meu cabelo. — Eu te amo, branquinha — sorri. Henry me chamava assim desde a nossa primeira noite juntos depois do nosso primeiro jantar. No dia da praia. — Vamos! Quero saber logo! — por mais que eu me esforçasse para ter algum vislumbre pela fibra do tecido, o fato de ser noite não ajudava. Senti meus saltos pisarem na grama. Por isso ele me segurava na cintura. Já estava ficando impaciente, estávamos indo devagar demais. De repente ele nos parou e veio atrás de mim. Finalmente o senti desfazer o nó da venda. Pisquei para acostumar os olhos. Era um sonho. No meio daquele imenso gramado, uma banda começou a tocar uma música suave e vi uma mesa posta para dois com uma rosa vermelha no centro. Um garçom estava parado ao lado de um carrinho com bandejas que supus conterem os pratos. Olhei um pouco ao redor e notei um pequeno lago com uma ponte toda iluminada com luzinhas brancas. Parecia cena de filme romântico. Meus olhos se encheram de lágrimas, ele parou ao meu lado e, erguendo uma das minhas mãos, a beijou docemente me observando. Sorri. — É a dama mais bela que os meus olhos já viram. Uma princesa — senti meu rosto esquentar um pouco. Ele sempre me elogiava dizendo o quão linda eu era. Estava me sentindo magnífica no meu vestido vermelho na altura dos joelhos e minhas sandálias altas prateadas. Íamos a um casamento, pelo que eu lembrava. Ele estava lindo em um terno preto, sem gravata, e a camisa lilás com o botão do colarinho aberto. Não me cansava da sua beleza. — E você, o meu príncipe - passou uma mão no meu rosto e se aproximou me conduzindo em uma dança. — Esta noite é só nossa. Esse lugar é só nosso — disse contra o meu cabelo, enquanto eu estava recostada em seu peito. Afastei-me e o olhei intrigada. — Como assim? — ele parou de dançar. Contra todas as minhas apostas ficou em um joelho na minha frente e tirou uma caixinha do bolso. Levei as duas mãos à boca. — Ia esperar para depois do jantar, mas estou ansioso demais — minhas mãos começaram a trabalhar nas lágrimas que desciam. — Comprei essa casa com esse lindo jardim porque quero ver nossos filhos correndo nele. Quero passear com você nessa ponte quando estivermos com nossos cabelos brancos e nossos netinhos nos alcançando. Quero que seja minha para amar e cuidar. Quero que seja minha esposa, Jane. Casa comigo? — Eu... Eu... Eu... — eu não conseguia responder, as lágrimas tomaram conta de mim. Ele se levantou e me abraçou. — Querida, tudo bem. Eu posso esperar. Entendo, só estamos juntos há sete meses, seu aniversário é em agosto, mas queria me casar no mês do início do nosso namoro, então pensei no começo de setembro... — Sim, eu aceito. Aceito e aceito — eu o interrompi, e ele me olhou. — Sério? — Sério. Por favor, coloca o anel. Uma batida na porta me despertou do devaneio. Sequei uma lágrima que surgia sempre que me lembrava do dia mágico e corri para abrir. — Samy!!! — não podia acreditar. Que saudades dela. — Jane!!! — abracei minha melhor amiga e madrinha do meu casamento. Ela havia viajado em um tour pela América Central e ia voltar na semana seguinte. Estava preparando uma festa para comemorar o retorno dela e o meu aniversário. — Surpresa! — Nossa, está cada vez mais linda! — ela deu uma voltinha. Exibida como sempre. Sorri, era muito bom tê-la em casa por um tempo. Sentia-me sozinha às vezes. Viajava vez ou outra para visitar meus avós que me criaram, mas vivia em função do Henry. — Posso entrar? — a voz do meu marido soou divertida atrás de nós e olhamos para ele. — Desculpe, amigo — Samy disse, deu um beijo no rosto dele e entrou puxando a mala. Ele veio até mim, me deu um beijo e sussurrou no meu ouvido. — Achei que ia te provar com esse vinho assim que chegasse — afastou-se e me deu outro beijo. Sorri ficando excitada. Nos dávamos muito bem naquele quesito. — Paciência é uma virtude, meu amor — sussurrei de volta. — Ei, dá pra saírem da porta e me acomodarem? — Samy gritou lá de dentro. Sorrimos e peguei o vinho da mão dele. Abraçou-me por trás e fomos para a sala. Tudo em seu devido lugar... Meu conto de fadas com meu final feliz.

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