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  • Qualis Editora

Trecho de Escolhas - Cristina Valori


─ Preciso ir ─ não queria, mas precisava ir embora assim que olhei o relógio. ─ Tudo bem, também tenho que voltar. Tenho mais um cliente para atender ─ levantou e foi para o caixa pagar a conta. ─ Nós ficamos aqui bastante tempo, e se alguém te procurou? ─ falei andando ao seu lado, tentando em vão, lhe entregar o dinheiro para pagar o meu café. ─ Ninguém iria me procurar, já tinha separado esse horário para a gente ─ tinha um sorriso presunçoso ao falar. ─ E se eu não aceitasse o seu convite? ─ Era um risco que estava disposto a correr ─ tinha um sorriso presunçoso ao responder. Saímos do café e ele me acompanhou até o carro. Fizemos o pequeno percurso em silêncio e mãos não foram dadas. Nós tínhamos nossos olhares voltados para todos os lados, menos um para o outro. Fiquei um pouco decepcionada, mas sabia que era o melhor. Andávamos por um terreno perigoso. ─ Bom, chegamos ─ disfarcei ao abrir a bolsa para pegar a chave, pois não queria que visse o quanto tremia. ─ Fabi... ─ parou, colocou a sua mão sobre o meu ombro me virando para ele, e ficou me olhando antes de terminar a frase. ─ Qualquer problema com a tatuagem é só me ligar. ─ Tá bom. Obrigada mais uma vez ─ respirei fundo e continuei. ─ Por tudo. ─ Não precisa me agradecer. Gustavo foi chegando mais perto, mais perto, e eu quase entrei em pânico. Sabe aquelas cenas que aparecem nos filmes, que o mocinho vai se aproximando da mocinha e a gente tem a certeza que virá um beijo digno de cinema? Foi exatamente daquele jeito. Mas como na vida nada era tão fácil, não me beijou. Ele se aproximou, passou pelos meus lábios, quase os tocando, e me deu um longo beijo casto na bochecha. Encostar o meu rosto ao seu, foi ainda melhor do que segurar a sua mão, sentir o seu calor e o seu cheiro. Além dos nossos rostos, não havia mais nenhum toque entre nós. Meus braços estavam na lateral do meu corpo e me controlei ao máximo para não levantá-los e puxá-lo para mais perto. Nenhum dos dois queria se afastar, mas era preciso, e mais uma vez ele deu o primeiro passo, pois eu não tinha forças e nenhum controle sobre mim. Afastou-se e me olhou com a mesma intensidade da primeira vez, enxerguei através dos seus olhos o quanto me deseja e lutava para não se entregar naquela hora. Sou sincera em falar que se tivesse me beijado, ficaria assustada, mas não iria me distanciar, porque eu queria demais sentir seus beijos e seu corpo. ─ Adeus, Fabiana. ─ Adeus, Gustavo ─ entrei no carro, dei a partida e saí o mais rápido que consegui. Olhei pelo retrovisor. Ele estava lá, parado. Desejando-me.

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